quarta-feira, 4 de julho de 2012

Idosos


"Se as pessoas foram feitas para serem amadas e as coisas para serem usadas, então porque amamos as coisas e usamos as pessoas?” – Bob Marley

Quantas vezes ouvimos falar em idosos abandonados em suas casas ou “despejados em lares”? Infelizmente acontece muitas vezes. Ultimamente até se tem ouvido nas notícias casos de idosos que foram encontrados mortos em suas casas meses depois. Tenho uma enorme dúvida na minha cabeça… será que perdemos o respeito? Será que perdemos a noção de que os idosos também são humanos, que são como eu, tu e qualquer outra pessoa, apenas com mais experiência da vida. Será que não nos lembramos que um dia também seremos idosos? Será que hoje em dia damos tanto valor a um carro novo mas não somos capazes de respeitar o homem e mulher que nos trouxeram ao mundo? Não estaremos a inverter as nossas prioridades?

Tenho pena que hoje em dia os idosos se sintam abandonados na sua própria casa, pela sua própria família, aqueles a quem dedicaram toda a sua vida a amar e que agora são incapazes de retribuir. Custa-me ver a sua carência de afecto e de atenção causada pelo desprezo dos que não sabem dar valor à experiência da vida.

Não tenciono ofender ninguém que coloca familiares em lares ou casas similares, por vezes é mesmo a melhor opção para eles. Em casa já não tinham condições para estar sozinhos e ali têm alguém a olhar por eles e outras pessoas com quem conviver. Apenas que não os devemos ir “despejar” lá. Porque infelizmente isso acontece muito. “O pai já não está em condições de ficar em casa sozinho, é melhor pô-lo num lar”, até aí tudo bem, a questão é: Quantas vezes os vamos visitar? Quantas vezes lhes telefonamos? Ou será que nos limitamos a deixá-los lá para não mais nos preocuparmos?

Olhemos à nossa volta e lembremo-nos de como tratamos as pessoas que nos rodeiam. Será que temos sido justos para com eles? Será que eles não merecem mais da nossa atenção e do nosso carinho? Não temos tempo. Provavelmente será essa a resposta que nos ocorre de imediato. Mas será mesmo essa a realidade? Não teremos nós, 10 minutos do nosso tempo para um simples telefonema ou para visitar um familiar ou amigo? Não podemos ir todas as semanas, vamos uma vez por mês. Mas vamos. E esse ir, esse pequeno tempo que despendemos faz alguém tão feliz. Será que já pensámos nessa perspectiva? Será que já tentámos imaginar como eles se devem sentir? Lembremo-nos da última vez que visitámos alguém idoso, do brilho dos seus olhos por nos ver, das suas palavras emocionadas, dos seus sorrisos e das suas lágrimas de tanta alegria. Não terá isso também significado para nós? Não nos sentiremos nós também felizes?

Eu gosto de conversar com eles, ainda que eles não se lembrem por vezes do que falámos da última vez e me contem várias vezes a mesma história. Gosto da expressão nas suas palavras ao recordar as suas vivências. Gosto do brilho nos seus olhos emocionados com o simples facto de despender alguns dos meus minutos para os ouvir. Gosto da partilha de sabedoria, de honestidade e de valores. Gosto de sentir que fiz alguém feliz com um coisa tão simples que é dar um pouco de atenção.

Púnhamos a mão na consciência. Se não for por outras razões, lembremo-nos ao menos que um dia, também nós, seremos idosos e que quando esse dia chegar não vamos querer a solidão e o desprezo das outras pessoas.

Sejamos para com eles aquilo que, um dia, desejamos que sejam para connosco. 

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